Ações de controle do percevejo-marrom na soja

19/06/2020

Dos insetos-praga constantemente encontrados na soja, os percevejos fitófagos da família Pentatomidae são considerados os principais causadores de danos econômicos na cultura. Esse grupo de insetos começa sua multiplicação no final do período vegetativo da soja, sendo mais prejudiciais na fase inicial de formação das vagens, embora possam causar danos até a fase final de maturação dos grãos. Dentre as espécies de percevejos que atacam a cultura da soja, destaca-se o percevejo-marrom, Euschistus heros (Hemiptera: Pentatomidae), por ser a espécie mais abundante na região do Cerrado brasileiro. O principal prejuízo do ataque do adulto, bem como das ninfas grandes de E. heros, se dá através da inserção de seu estilete bucal nas estruturas reprodutivas da soja, causando perdas significativas na produção e na qualidade dos grãos ou sementes produzidos, podendo reduzir em até 30% a produtividade da cultura.

O controle de percevejos na soja é, frequentemente, realizado através da aplicações de inseticidas químicos na fase reprodutiva da soja, sendo esse controle recomendado a partir do estádio R3, quando forem encontrados dois insetos por metro linear nas fileiras de soja destinadas à produção de grãos e um percevejo por metro de fileira de plantas em lavouras de sementes.

Conduziu-se uma pesquisa na Embrapa Agropecuária Oeste que teve como objetivo avaliar o potencial de dano de seis níveis populacionais de adultos de E. heros na cultura da soja, em quatro estádios fenológicos da cultura, sendo este efeito avaliado considerando-se o rendimento e a qualidade dos grãos ou sementes produzidos.

Danos em diferentes estágios da soja

Os experimentos foram realizados em condições de campo na área experimental da Embrapa Agropecuária Oeste, município de Dourados, Mato Grosso do Sul (22º16'30"S, 54º49'00"W, 408m), durante a safra 2014/2015. Para tanto utilizou-se a cultivar de soja Brasmax Potência RR que apresenta crescimento do tipo indeterminado, sendo a semeadura e a condução da cultura realizadas segundo as recomendações para o cultivo da soja na região.

Quando as plantas de soja atingiram o estádio V8, constituído por oito trifólios completamente desenvolvidos, as unidades experimentais (parcelas) foram demarcadas na área experimental. Cada parcela foi composta de duas fileiras de soja com 1m de comprimento cada, abrangendo 20 plantas, onde foram instaladas as gaiolas confeccionadas com estruturas de PVC (1m de comprimento por 0,90m de largura e 1,2m de altura), cobertas com tecido do tipo “tule” (Figura 1).

Figura 1 - Detalhes das gaiolas confeccionadas a partir de conexões de PVC, cobertas com tecido “tule” e instaladas nas parcelas da área experimental do ensaio de danos do E. heros na cultura da soja. Dourados, MS
Figura 1 - Detalhes das gaiolas confeccionadas a partir de conexões de PVC, cobertas com tecido “tule” e instaladas nas parcelas da área experimental do ensaio de danos do E. heros na cultura da soja. Dourados, MS

No interior de cada gaiola foram realizadas as infestações com diferentes densidades populacionais do percevejo adulto de E. heros (0, 2, 4, 6, 8 e 10 percevejos/gaiola) em quatro diferentes estádios fenológicos da cultura (V8, R2, R4 e R5). Cada tratamento (densidades populacionais do percevejo) contou com quatro repetições conduzidas no delineamento de blocos ao acaso.

Diariamente as gaiolas eram inspecionadas para o monitoramento dos percevejos, e quando os insetos eventualmente morriam, era feita reposição. Para facilitar o monitoramento e a visualização dos percevejos, colocou-se na superfície do solo abrangido pelas gaiolas, areia de coloração branca. As infestações foram mantidas durante o período de 14 dias e, ao final, as gaiolas foram retiradas e as plantas de soja pulverizadas com inseticida químico para a eliminação dos insetos presentes no interior das gaiolas, sendo esta operação também repetida semanalmente até a completa maturação dos grãos da cultura.

Colheu-se a soja proveniente da área abrangida pelas gaiolas, sendo os grãos trilhados, pesados e determinado o rendimento de grãos/ha em cada tratamento. Para o diagnóstico da qualidade dos grãos produzidos, realizou-se o teste de tetrazólio nas sementes de soja colhidas apenas nos tratamentos em que houve infestação nos estádios R4 e R5 da cultura, seguindo o protocolo de França Neto et al (1998).

Os dados de rendimento de grãos foram submetidos a análise de regressão ao nível de 5% de significância. Já os parâmetros de qualidade das sementes obtidas pelo teste de tetrazólio foram submetidos à análise de variância e, quando constatados efeitos significativos de tratamento, as médias dos tratamentos foram comparadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.

Resultados obtidos

Não foi constatada significância na análise de regressão entre as densidades populacionais de percevejos infestadas nas gaiolas e o rendimento de grãos/ha para os experimentos instalados nos estádios vegetativo V8 e reprodutivo R2 da soja (Figura 2). Todavia, o aumento da densidade populacional de E. heros nas plantas de soja presentes nas gaiolas afetou negativamente o rendimento de grãos quando os ensaios foram conduzidos nos estádios R4 e R5 da cultura (Figura 2). Verificou-se também que a porcentagem de germinação e de vigor das sementes de soja não foi afetada pelas diferentes densidades populacionais do percevejo quando a infestação foi realizada nos estádios tanto R4 quanto R5 (Tabela 1).

Figura 2 - Rendimento de grãos de soja (kg/ha) em função de níveis de infestação de percevejos adultos de E. heros em diferentes estádios de desenvolvimento (V8, R2, R4 e R5) na cultura da soja. Dourados, MS
Figura 2 - Rendimento de grãos de soja (kg/ha) em função de níveis de infestação de percevejos adultos de E. heros em diferentes estádios de desenvolvimento (V8, R2, R4 e R5) na cultura da soja. Dourados, MS

No entanto, a porcentagem de sementes com danos (picadas) causados pelo percevejo (1 a 8) foi significativamente influenciada em todas as densidades do percevejo testadas quando comparado ao tratamento testemunha (sem infestação) para os ensaios conduzidos nos estádios fenológicos R4 e R5, sem que diferisse entre as densidades avaliadas do percevejo (Tabela 1). Da mesma forma, as taxas de sementes que apresentavam picadas e as inviabilizadas pelo percevejo (6 a 8) foram também significativamente elevadas para todas as densidades populacionais de percevejos estudadas nos ensaios conduzidos em R4 e R5, quando comparado ao tratamento sem infestação (Tabela 1).

A não significância entre densidade populacional de percevejos e o rendimento de grãos de soja/ha é algo bem documentado para os representantes de percevejos da família Pentatomidae, quando os ensaios são instalados no estágio vegetativo da soja ou até mesmo nos estádios R1 e R2. No entanto, esse fato pode ser agravado quando as densidades populacionais de E. heros estiverem associadas ao estágio fenológico crítico da cultura, ou seja, naquele estágio em que as plantas de soja estão mais suscetíveis aos danos ocasionados pelos percevejos, que é o início das fases de enchimento dos grãos na cultura (R5.1). Scopel et al (2016) também constataram que uma densidade do percevejo-marrom de 12 percevejos/m2, na fase vegetativa da soja (V6), não afetou o rendimento de grãos da cultura.

Da mesma forma, Corrêa-Ferreira (2005) verificou que populações de E. heros e de Piezodorus guildinii (Westwood, 1837) com até oito percevejos/planta de soja também não apresentaram diferenças no rendimento de grãos quando as infestações ocorreram entre o final do período vegetativo (V9) ou no estádio de florescimento pleno da soja (R2), como também foi observado na presente pesquisa. Entretanto, a diminuição no rendimento de grãos de soja é possível, quando a infestação de percevejos E. heros ocorre a partir do estádio R4. Scopel et al (2016) verificaram que infestações com apenas 0,5 percevejo/m2 no início do estádio de desenvolvimento de grãos (R5.1) é suficiente para causar redução significativa do rendimento de grãos, à semelhança do observado neste trabalho para as infestações realizadas nos estádios R4 e R5, embora com maiores densidades do percevejo.

A porcentagem de sementes que apresentaram danos pelos adultos de E. heros foi significativamente influenciada em todas as diferentes densidades utilizadas do percevejo nas gaiolas quando comparado ao tratamento testemunha (sem infestação). As taxas de sementes picadas ou consideradas inviabilizadas pelos percevejos (6 a 8) foram também significativamente elevadas para todas as densidades populacionais de percevejos testadas nos ensaios conduzidos em R4 e R5, quando comparado ao tratamento sem infestação (testemunha).

Com base nos resultados obtidos nesta pesquisa pode-se inferir que medidas de controle do percevejo E. heros na soja são desnecessárias na fase vegetativa e até mesmo no seu pleno florescimento (R2), mesmo que essa praga esteja ocorrendo em altas densidades populacionais nestes estádios de desenvolvimento da cultura. No entanto, os estádios reprodutivos R4 e R5, evidenciaram que são suscetíveis ao ataque de E. heros e, desta forma, requer atenção e ações de controle por parte dos produtores, para a prevenção da redução de produtividade e da qualidade dos grãos de soja produzidos.

Crébio José Ávila, Embrapa Agropecuária Oeste Paulo Henrique R. Fernandes e Ivana Fernandes da Silva, Universidade Federal da Grande Dourados

Fonte: Grupo Cultivar

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